São nove metros de extensão, 500 milhões de neurônios e 30 neurotransmissores trabalhando pelas suas emoções, pensamentos e humores – além, claro, do bom funcionamento do corpo. Não estamos falando do córtex ou do hipotálamo, mas sim do intestino, órgão que vêm chamando a atenção de médicos e pesquisadores. Não à toa, sabe-se hoje que o bem-estar global está ligado ao bom funcionamento dele. É provado que 60% da nossa imunidade está diretamente ligada à saúde intestinal e 95% da serotonina é liberada pelo cólon. Negligenciá-lo predispõe as pessoas a desenvolver doenças crônicas e autoimunes. Além de tendências depressivas, oscilações de humor e instabilidade emocional.
Um dos males mais comuns que acomete o órgão é a Síndrome do Intestino Irritável (SII), uma alteração na sua movimentação, que pode levar à constipação e/ou à diarreia e causa muita dor. Dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia mostram que a SII atinge de 10% a 20% da população adulta brasileira – principalmente mulheres em idade produtiva. Com causas variadas (do estresse às alergias alimentares), tem um tratamento padrão: uma dieta que retira da alimentação tudo o que pode causar algum tipo de inflamação no trato digestivo, os carboidratos chamados de FODMAPs. A sigla, que é um acrônimo em inglês para oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, virou mania depois de pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, descobrirem que uma dieta com baixo teor desses elementos ajuda a aliviar sintomas da síndrome em até 70%.
Basicamente, esses açúcares estão presentes em diversos alimentos, desde os derivados do leite e fermentados até os favoritos das dietas detox como abacate, água de coco e castanha de caju. Uma vez no corpo, são mal absorvidos no intestino delgado e acabam atraindo água para dentro do órgão. Quando essas substâncias pouco digeridas chegam ao cólon, as bactérias rapidamente as fermentam, gerando gases. A má absorção da maioria dos carboidratos FODMAPs é comum a todos. Mas os pacientes com SII têm bem mais sintomas de desconforto.
Se não tratada, essa síndrome pode gerar doenças mais sérias. Quando não identificamos os alimentos nocivos para o paciente, criamos um processo de inflamação crônica, que altera sua capacidade digestiva.
Assim, os FODMAPs podem ter sido desde sempre o cerne dos desconfortos intestinais. “Nossa pesquisa indica que a maioria das pessoas que têm alguma ‘sensibilidade’ autodeclarada ao glúten, de fato não a tem”, afirma Peter Gibson, gastroenterologista australiano que criou a dieta low-FODMAPs. Em sua pesquisa, Gibson e seus colegas descobriram que os “falsos celíacos” não reagiam ao trigo com baixo terror de FODMAPs, mesmo contendo glúten.
O princípio da dieta pobre em FODMAPs é simples na teoria e difícil de seguir na prática “A estratégia consiste em retirar os alimentos com alto teor desses carboidratos. Ainda não há como diagnosticar a sensibilidade aos açúcares, então o jeito é apelar para tentativa e erro. A dieta dura de quatro a seis semanas, e então os sintomas são avaliados e os alimentos são reintroduzidos de forma gradual e supervisionada. A lista do que deve sair é bem longa.
A procura pela dieta tem sido tanta que marcas na Nova Zelândia e Austrália já estão investindo em versões FODMAP-free de receitas comuns. No entanto, diferentemente das dietas low-sugar, lactose e glúten, um cardápio que restringe os açúcares FODMAP não é indicado para todo mundo – e muito menos é sinônimo de lifestyle saudável. A alimentação tem um importante papel na modulação da microbiota intestinal e é responsável pela imunidade e homeostase do organismo. Uma dieta muito restritiva pode contribuir para um quadro de desequilíbrio dessa microbiota. Tanto pelo déficit nutricional quanto pelo estresse emocional que ela pode induzir.
Frutas: maçã, pera, pêssego, manga, melancia, nectarina, cereja, abacate, sucos naturais, xarope de milho.
Laticínios: leite de vaca, cabra ou ovelha e derivados.
Hortaliças: alcachofra, aspargo, beterraba, brócolis, couve, alho, alho-poró, quiabo, cebola, couve-flor, ervilhaww, grão-de-bico, lentilha, feijão.
Cereais e massas: pães, bolos, biscoitos ou cereais contendo trigo e centeio.
Frutas: banana, amora, carambola, uva, abacaxi, melão, kiwi, limão, lima, laranja, tangerina, morango, maracujá.
Laticínios: leites e queijos sem lactose ou de origem vegetal. Manteiga e queijos curados.
Hortaliças: broto de bambu, cenoura, aipo, milho, berinjela, alface, cebolinha, pepino, abóbora, abobrinha, espinafre, batata, batata-doce.
Cereais e massas: farinhas, pães, macarrão e biscoitos sem glúten, produtos com farinha de milho ou de mandioca, quinoa, arroz, macarrão de arroz.
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1 Comment
Sou a Ana Letícia, seu artigo é realmente impressionante!
Apresenta um conteúdo valioso. Parabéns pelo trabalho
extraordinário! Nota 10.